LIBEA - Literatura Brasileira de Expressão Alemã
PROJETO DE PESQUISA COLETIVA (USP/Instituto Martius-Staden)
Grupo de pesquisa RELLIBRA – Relações linguísticas e literárias Brasil-Países de língua alemã
Coordenação geral: Celeste Ribeiro-de-Sousa
Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã - USP
MARGRET KUHLMANN (1892-1984): VIDA E OBRA
Autoria: Rodrigo Botelho, 2009.
Direitos autorais: veiculação autorizada pela editora.
Como citar: Botelho, Rodrigo. Margret Kuhlmann (1892-1984): vida e obra. São Paulo: Instituto Martius-Staden, 2009.
Dados biobibliográficos
Foto gentilmente cedida por Mônica Brandt
Margret Baring nasceu em Hannover, Alemanha, a 26.10.1892, filha de Adolf Baring (presidente do Senado) e Carla Baring. Imigrou para o Brasil em 1914, para se casar com o noivo, o médico Ulrich Heinrich Kuhlmann, que aportara ao Brasil no ano anterior, convidado por Roberto Löw, proprietário do jornal Die Serra Post. Casou-se com ele a 18.04.1914 em Porto Alegre/RS. Passou, então, a utilizar o nome de casada: Margret Kuhlmann. Fixou residência em Ijuí/RS, que, à época, ainda não era um município, mas apenas uma colônia (Ijuhy). Deu à luz três filhos: Dietrich, Ilse e Heinz. O mais novo, Heinz, morreu aos 16 anos, em 1937.
Margret Kuhlmann escreveu poesia – não publicada – e diversas narrativas, além de um artigo para jornal. Além da literatura, dedicou-se também à fotografia, tendo, inclusive, recebido alguns prêmios por seus trabalhos fotográficos. Permaneceu em Ijuí entre 1914 e 1942, onde dirigiu durante anos a Escola Evangélica Alemã.
Após a adesão brasileira aos “Aliados” durante a Segunda Guerra Mundial, Margret e seu marido passaram a ser perseguidos politicamente, o que acarretou na sua saída de Ijuí. Em 1942, mudou-se para Porto Alegre, onde faleceu a 15.07.1984.
Conforme Mônica Brandt, estudiosa deste tema, o Dr. Kuhlmann (1884-1975) estudara medicina na Universidade de Kiel, onde se formara em 1909 com distinção e louvor.
Foto da família Kuhlmann gentilmente cedida por Mônica Brandt
Consta que tanto Ulrich quanto Margret Kuhlmann, além de cultos, dividiam várias atividades eletivas, entre elas, o gosto pela música, pela fotografia, plantas e astros. A postura franca e diferenciada do casal propiciou, sem demora, que o jovem médico tomasse conhecimento da dinâmica e dos limites vividos pelos habitantes de Ijuí, na época. Já Margret, auxiliando o marido no consultório e participando amplamente de atividades culturais junto à Comunidade Evangélica, em pouco tempo integraria o corpo docente do colégio mantido pelos protestantes. Com pendor para o desenho, a fotografia, a música e a escrita, Margret registrou suas impressões sobre os mais diversos assuntos – em grande parte, observações de estranhamento, cujo olhar naturalmente desponta em pessoas que vivenciam a experiência de deixar a “mãe pátria” para viver em outras terras. Registre-se que Margret, além de docente da então “Deutsche Evangelische Verreins Schule”, (hoje Colégio Evangélico Augusto Pestana, pertencente à Rede Sinodal de Educação), assumiu-lhe a direção quando do licenciamento do seu Diretor, Karl Soelter, que passou o ano de 1932 na Alemanha. Margret, na gestão Soelter exercia a função de professora de Língua Inglesa nas 7ª e 8ª séries, de forma voluntária, não auferindo salário.
Sabe-se ainda que Dr. Kuhlmann se ofereceu às autoridades, em diversas circunstâncias, como sanitarista, apontando, não raro, soluções práticas. Foi idealizador e proprietário do primeiro hospital da cidade, O “Krankenhaus Ijuhy”, ou Hospital Alemão, como era conhecido. Adquiriu e instalou em seu consultório à Rua do Comércio o primeiro aparelho de Raio X, inovação que apenas os hospitais dos grandes centros possuíam.
Nas suas pesquisas em astronomia, descobriu uma estrela, a Nova Aquilae e, auxiliado por seu amigo, o jornalista Ulrich Löw, teve sua descoberta reconhecida pelo Instituto Astronômico e Meteorológico de Porto Alegre, que a registrou.
Como integrante da Comunidade Evangélica Ijuí, “Deutsch Evangelische Gemeinde” intermediou a compra e a instalação do relógio da Igreja que, inaugurada em 1914, foi submetida a uma reforma em 1922. Encarregou-se de sua manutenção pelo tempo que permaneceu em Ijuí.
Em uma ocasião a intendência da Vila Ijuhy ficou vaga pela súbita saída de Alfredo Steglich. O Coronel Dico que, antes dele, vinha monopolizando por longo tempo esse cargo, mas que havia sido impedido de candidatar-se mais uma vez, ainda detinha a força política para resolver questões urgentes na Vila. Imediatamente lembrou-se do Dr. Kuhlmann, pessoa de confiança e benquisto na sociedade.
Dr. Kuhlmann assumiu a intendência da Vila Ijuhy de 15 de abril a 30 de novembro de 1928, naquele seu espírito de colaboração, sempre pronto a intervir quando solicitado.
Com o advento do Estado Novo e consequente política de nacionalização, ocorreram drásticas mudanças no já então Município de Ijuí. Naquela época, em plena 2ª Guerra Mundial e de grandes conflitos étnicos, Dr. Kuhlmann era vice-cônsul da Alemanha, o que lhe trazia permanentes contatos com seu país de origem, o que acabou lhe rendendo a desconfiança do DIP, (Departamento de Imprensa e Propaganda), órgão repressor que interceptou o uso de um rádio amador que usava no uso de suas funções.
Esses fatos geraram uma série de incômodos para a família Kuhlmann quando, em 1942 o DIP impôs ao casal Ulrich e Margret uma reclusão domiciliar por um período de dois meses. E o caso não parou por aí. O médico passou pelo constrangimento de ser escoltado por policiais ao cruzar a Praça da República, dirigindo-se à Prefeitura, quando foi acionado pelas autoridades a dar explicações sobre sua vida. O respeitado Dr. Kuhlmann, que antes havia entrado no mesmo edifício como autoridade máxima, agora o fazia como cidadão de brasilidade duvidosa. O ocorrido foi determinante para a mudança do casal que, em 1942, partiu para Porto Alegre, onde o médico deu continuidade a sua profissão.
Dr. Kuhlmann veio a falecer em 1975, aos 91 anos, em Porto Alegre, 9 anos antes de sua esposa.
Entre os principais escritos de Margret Kuhlmann, estão as seguintes narrativas curtas e textos memorialísticos:
Narrativas
Es war vor vierzig Jahren. Als Arztgattin im Urwald (Foi há quarenta anos. Como esposa de médico na mata virgem). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1953, p. 121-134. Deutsch Português
Unser Mieter, der Zaunkönig (Nosso senhorio, o rei da cerca). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1953, p. 183-92.
Herr und Hund – Eine pädagogische Betrachtung (Homem e cão – uma abordagem pedagógica). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1954, p. 161-71. Deutsch Português
Dreihundert Unzen (Trezentas onças). (Traduzido de J. Simões Lopes Neto) In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1955, p. 111-8.
Was man auf einer Fahrt zum Urwald erleben kann (O que se pode experimentar com uma viagem pela floresta). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1955, p. 131-149.
Revolution (Revolução). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1957, p.81-90. Deutsch Português
Nächtliches Erlebnis – Eine Erzählung aus Ijuís Vergangenheit (Aventura noturna – uma narrativa do passado de Ijuí). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1958, p. 215-219.
Freunde ohne Falsch (Amigos sinceros). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1959, p. 103-111.
Juju (Juju). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1962, p. 129-132.
Das hässliche junge Entlein (O patinho feio). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1963, p. 129-133.
Die deutsche Grossmutter und ihr brasilianisches Enkelkind (A avó alemã e seu neto brasileiro). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1972, p. 79-83.
Outros
Agostinho und Dona Ninha. In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1955, p. 211-213.
Vom Wesen und Wert des Spiels (Do sentido e do valor dos jogos). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1956, p. 143-155.
Wiedersehen mit Ijuí (Reencontro com Ijuí). In: Serra-Post Kalender (Suplemento). Ijuí, Ulrich Löw, 1956, p. 7.
Streifzüge durch die Landschaft von Rio Grande do Sul (Incursões pela paisagem do Rio Grande do Sul). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1960, p. 113-121.
Kreuz und Quer durch Pôrto Alegre (Cruzando Porto Alegre). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1962, 73-83.
Troglodytus musculus musculus (Troglodytus musculus musculus). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1964, p. 113-116.
Vila Velha (Vila Velha). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1964, p. 173-176.
Die ersten Solare von Pôrto Alegre und ihre Geschichte (Os primeiros solares de Porto Alegre e sua história). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1965, p. 147-158.
Die ersten Herrenhäuser von Porto Alegre und ihre Geschichte (As primeiras casas senhoriais de Porto Alegre e sua história) (com prefácio do Dr. Carlos H. Hunsche e figuras). In: Deutsche Zeitung, São Paulo, 24.07.1977, p. 6-7.
Tierschutz in Brasilien (Proteção dos animais no Brasil). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1966, p. 133-142.
Die Vögel in unserem Garten (Os pássaros no nosso jardim). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1967, p. 145-151.
Ausschnitte und Erlebnisse aus einer Europareise (Fragmentos e experiências de uma viagem à Europa). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1969, p. 125-144.
Zwischenlandung – Paris (Escala – Paris). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1970, p. 149-164.
Ein Ferienaufenthalt in Nova Friburgo (Uma temporada de férias em Nova Friburgo). In: Serra-Post Kalender. Ijuí, Ulrich Löw, 1973, p. 137-148.
Resumos comentados
Em construção
Bibliografia crítica
Clique aqui