RELLIBRA

LIBEA - Literatura Brasileira de Expressão Alemã
PROJETO DE PESQUISA COLETIVA (USP/Instituto Martius-Staden)
Grupo de pesquisa RELLIBRA – Relações linguísticas e literárias Brasil-Países de língua alemã
Coordenação geral: Celeste Ribeiro-de-Sousa
Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã - USP

 

KARL VON KOSERITZ (1830- 1890): VIDA E OBRA

Autoria: Thomas Gernot Keil et alii, 2013.
Direitos autorais: em domínio público.
Como citar: Keil, Thomas Gernot et alii. Karl von Koseritz (1830-1890): vida e obra. São Paulo: Instituto Martius-Staden, 2013.

 

Dados Biobibliográficos

Irmgart Grützmann e Thomas Gernot Keil

 

Karl (também Carl ou Carlos) Julius Christian Adalbert Heinrich Ferdinand von Koseritz, filho do barão de Koseritz, nasceu em Dessau, capital do ducado de Anhalt, na Alemanha, a 3 de fevereiro de 1830 e faleceu em Pedras Brancas, município de Porto Alegre/RS, no Brasil, no dia 30 de maio de 1890. No que tange ao seu nascimento, existem divergências na bibliografia consultada. Oberacker (1961, p. 19), por exemplo, afirma que “a data de nascimento, comprovada por certidão, é 3 de fevereiro de 1834; são falsas, portanto, as indicadas comumente de 3 de fevereiro de 1832 e a indicada por Aurélio Porto 7 de junho de 1830.” No entanto, Koseritz, em um texto autobiográfico (1887, p. 35), afirma que, em 1852, tinha a idade de 22 anos, tendo nascido, então, em 1830, razão pela qual optou-se inicialmente por esta data como marco temporal.

Koseritz fazia parte de uma geração de intelectuais liberais que saiu da Europa em função da conjuntura a eles desfavorável, após as fracassadas revoluções liberais de 1848 das quais participou na Alemanha. Em 1851, veio para o Brasil, na condição de grumete (marinheiro de graduação inferior), no veleiro Heinrich que transportava parte dos mercenários da Legião Alemã, contratada pelo governo imperial para lutar contra Rosas. No Rio de Janeiro, engajou-se no 2º

Regimento de Artilharia da Legião Alemã da qual desertou em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, no ano de 1852. Passou a viver na cidade de Pelotas/RS, onde trabalhou como guarda-livros e professor e onde, no ano de 1855, casou-se com Zeferina Maria de Vasconcelos, filha de um estancieiro da localidade, com quem teve quatro filhas. Em Pelotas, também fundou, no ano de 1856, juntamente com seu amigo Telêmaco Bouliech, um colégio para meninos e engajou-se na atividade jornalística, atuando na redação de O Noticiador e criando, em 1858, seu próprio jornal: O Brado do Sul, considerado o primeiro jornal diário da cidade. Koseritz ainda ligou-se aos intelectuais de Pelotas, entre eles os escritores Bernardo Taveira Júnior e Lobo da Costa e envolveu-se na política local, posicionando-se contra os progressistas, membros do partido dominante na cidade, por meio de embates diários na imprensa. Em virtude das

consequências de seu envolvimento político, mudou-se para Rio Grande onde atuou na imprensa local, redigindo o jornal O Povo e colaborando no Eco do Sul, e onde fundou um estabelecimento de instrução primária e secundária: o Ateneu Rio-Grandense. Envolvido em conflitos locais e alvo de acusações, mudou-se para Porto Alegre, em 1864, onde se naturalizou em 1865, e onde sua atuação como jornalista na imprensa em língua alemã e portuguesa foi mais significativa e mais influente, encerrando-se com a sua morte em 1890.

A atuação de Koseritz na imprensa engloba as funções de colaborador, redator e dirigente/redator. Na função de redator, Koseritz trabalhou para os seguintes periódicos: O Povo, de Rio Grande; Jornal do Comércio; A Ordem, folha conservadora; O Mercantil; e A Reforma, órgão do Partido Liberal, todos editados em Porto Alegre. Sua atividade mais significativa nesta área ocorre de 1864 a 1881, época em que esteve à frente da redação do bissemanário Deutsche Zeitung (Folha Alemã), jornal noticioso, criado em 1861, por um grupo de comerciantes alemães de Porto Alegre, então o principal periódico em língua alemã na Província, no qual também divulgou uma grande parte de sua produção intelectual, permitindo a Koseritz, durante vários anos, um acesso expressivo e privilegiado ao público leitor de fala alemã. Além disso, Koseritz ainda foi colaborador dos seguintes jornais: O Noticiador, de Pelotas; Eco do Sul, de Rio Grande; e Sentinela do Sul, de Porto Alegre, bem como dos periódicos literários e culturais Eco do Ultramar que veio a lume em 1876 e Álbum de Domingo, criado em 1878.

Cabe lembrar que o jornal Deutsches Volksblatt, de orientação católica, veio a lume em 1871 e o jornal Deutsche Post, de orientação evangélica, criado pelo Dr. Wilhelm Rotermund, começou a circular a partir do final de dezembro de 1880.

A expressividade da atuação de Koseritz na imprensa também se sustenta a partir de sua atividade como criador e editor de periódicos que remonta a Pelotas, onde fundou, em 1858, seu primeiro jornal: O Brado do Sul. Foi, contudo, em Porto Alegre, que este tipo de empreendimento de Koseritz ganhou fôlego, originando os seguintes periódicos: o almanaque Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul (Almanaque popular alemão do Koseritz para a Província Rio Grande do Sul) para o qual contribuiu regularmente com matérias e produções literárias de sua autoria, que circulou de 1874-1918 a 1921-1938; A Acácia, semanário maçom, criado em 1876; o álbum humorístico dominical A Lanterna, criado em 1877; A Gazeta de Porto Alegre, considerada sua maior tribuna política e o mais conhecido veículo de suas idéias, no qual polemizou com Júlio de Castilhos, fundado em 1879; - Koseritz’ deutscher Zeitung (Folha Alemã do Koseritz), mais tarde denominada de Neue Deutsche Zeitung (Nova Folha Alemã) que circulou de 1881-1917 a 1919- 1941; a revista Die Ausstellung (A Exposição) referente à Exposição Alemã-Brasileira, organizada por Koseritz em Porto Alegre, que circulou de 1881 a 1882; O Combate, periódico centrado na difusão dos pressupostos da Escola de Recife, fundado em 1886.

Na imprensa em língua alemã e portuguesa, Koseritz propagava suas convicções

político-filosóficas, especialmente o ideário liberal, o evolucionismo darwiniano e a filosofia monística, seu posicionamento anticlerical, antifrancesista e antipositivista, bem como discutia questões centrais da segunda metade do século XIX, entre elas a educação, a participação política dos imigrantes alemães e de seus descendentes, a manutenção da germanidade deste grupo e a sua inserção na sociedade brasileira.

Koseritz ainda destacou-se nas pesquisas etnológicas, considerado um pioneiro neste campo no Rio Grande do Sul. Dedicou-se à reunião de coleções paleontológicas e etnológicas, parte das quais encontra-se no Museu Paulista, e ao estudo da poesia popular rio-grandense que ganhou notoriedade, especialmente por meio de sua repercussão na Alemanha e sua aceitação por parte de intelectuais no Brasil, entre eles Sílvio Romero. Koseritz ainda dedicou-se à crítica literária, mantendo contatos e debates com alguns dos mais importantes críticos brasileiros de sua época. Esteve ainda ligado a movimentos literários no Rio Grande do Sul, como foi o caso do naturalismo (César, 1967). Koseritz também dedicou-se à produção de obras literárias, em língua portuguesa e em língua alemã, podendo ser considerado um dos primeiros escritores da literatura de expressão alemã no Brasil, literatura essa que teve neste almanaque um de seus primeiros veículos de difusão. (Grützmann, 2004)

Koseritz ainda atuou no contexto político, social e cultural do século XIX por meio de suas atividades político-partidárias. Foi membro do Partido Conservador e do Partido Liberal no qual esteve ligado especialmente a Silveira Martins. Como representante da região colonial rio-grandense, integrou a Assembléia Provincial de 1883 a 1889. Além disso, esteve ligado à maçonaria – À Grande Loja Provincial São Pedro do Rio Grande do Sul. Koseritz ainda foi tradutor, integrando suas traduções novelas naturalistas de Leopold von Sacher-Masoch, e editor da seguinte obra de Sílvio Romero: A filosofia no Brasil, publicada em Porto Alegre, em 1878.

As atividades de Koseritz ainda abarcam outras áreas. A partir de 1865, desempenhou a função de ajudante e agente tradutor do inspetor geral do Serviço de Povoamento do Solo. Fundou, em 1883, juntamente com o Visconde de Taunay e Dr. Hermann Blumenau, a Sociedade Central de Imigração, destinada a lutar contra imigração chinesa e as formas servis de trabalhos nas fazendas. Organizou a Exposição Alemã-Brasileira, em Porto Alegre, realizada entre 1881 e 1882, com o objetivo de demonstrar as vantagens de um comércio maior entre o Brasil e a Alemanha. Foi ainda representante local da Central Verein für Handelsgeographie (Sociedade Central Geográfica Comercial), de Berlim, e presidente da Deutscher Rechtsschutzverein (Associação Alemã de Proteção Jurídica), em Porto Alegre, na qual atuava como advogado sem ter formação acadêmica para tanto.

Entre seus principais escritos, alguns deles identificados com o pseudônimo J. S. ou X.Y.Z., estão os seguintes textos (contos, dramas, romances, ensaios e reminiscências):

 

NARRATIVAS

À véspera da batalha. Pelotas, s. ed., 1859.

A donzela de Veneza. Pelotas, Tipografia comercial, 1858. Este romance conheceu uma 2ª edição em 1874. (Transcrição in: Vaz, Artur Emílio Alarcon & Mello, Juliane Cardozo de. Carlos von Koseritz: novelas. Porto Alegre, Instituto Estadual do Livro CORAG, 2013, p. 39-85).

Elissandro: um drama no mar. Rio Grande, s. ed., 1862. (Transcrição in: Vaz, Artur Emílio Alarcon & Mello, Juliane Cardozo de. Carlos von Koseritz: novelas. Porto Alegre, Instituto Estadual do Livro CORAG, 2013, p. 87-118).

Um credor. Trad. de Castle Rackrent, de Maria Edgeworth (1800). Folhetim publicado no jornal Eco do Sul entre 4 fev. a 22 abr. 1862.

Ad majorem Dei gloriam. Eine Erzählung aus der Colonie (Para glória máxima de Deus. Um conto da colônia). In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1874, p.37-99. Deutsch 

Laura, também um perfil de mulher. Rio Grande, Tipografia J. J. R. da Silva, 1875. Este texto conheceu uma 2ª edição em 1887. (Transcrição in: Vaz, Artur Emílio Alarcon & Mello, Juliane Cardozo de. Carlos von Koseritz: novelas. Porto Alegre, Instituto Estadual do Livro CORAG, 2013, p. 119-168).

Die Sühne. Eine Erzählung aus der Colonie (A expiação. Um conto da colônia). In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1875, p.33-63. Deutsch  Português

Der Jesuit. Eine Erzählung aus der Colonie (O jesuíta. Um conto da colônia). In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1876, p 33-69. Deutsch  Português

 

 

TEATRO

Dramas (peças: Clara, Nani e Inês). Pelotas: Tipografia Comercial, 1860.

 

ENSAIOS E OUTROS ESCRITOS

Resumo de história universal. Pelotas, tipografia de Luís José de Campos, 1856.

Resumo de economia nacional, especialmente aplicado às circunstâncias atuais do país. Porto Alegre, Typ. do Jornal do Comércio, 1870. (Transcrição: Gertz, René (org.). Karl Von Koseritz. Seleção de textos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999, p. 103-145.

Roma perante o século. Porto Alegre, Typ. do Jornal do Comércio, 1871. (Transcrição in: Gertz, René (org.). Karl Von Koseritz. Seleção de textos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999, p. 147-167).

Rom vor dem Tribunal des Jahrhunderts. Porto Alegre, Buchdruckerei der D. Zeitung, 1872.

Der Muckerschwindel auf der deutschen Colonie. Ein Beitrag zur Culturgeschichte des hiesigen Deutschthums. In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1875, p. 119-144.

Verschiedene Originale. Ein Blatt der Erinnerung. (Vários originais. Uma página da memória). In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1877, p.150-158.

Ein Vierteljahrhundert in der brasilianischen Presse (Um quarto de século da imprensa brasileira). In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1881, p.124-141.

Der Cuicas. Eine journalistische Erinnerung (Das cuícas. Uma recordação jornalística). In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1883, p.216-226.

A terra e o homem à luz da moderna ciência. Porto Alegre, Typografia de Gundlach e Cia., 1884.

(Transcrição in: Gertz, René (org.). Karl Von Koseritz. Seleção de textos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999, p. 17-86).

Bosquejos etnológicos. Porto Alegre, Typografia de Gundlach e Cia., 1884. (Transcrição in: Gertz, René (org.). Karl Von Koseritz. Seleção de textos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999, p. 87-102).

Bilder aus Brasilien (Imagens do Brasil). Leipzig: A. W. Sellin, 1885.

(Trad. de Afonso Arinos de Mello Franco, publicada em São Paulo pela Livraria Martins em 1943.

Weihnachtsabende. Erinnerungen aus Nord und Süd (Noites de Natal. Recordações do Norte e do Sul). In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1886, p.52-68.

Alfredo d´Escragnole Taunay: um esboço característico. 2. ed., Rio de Janeiro, Typ. De G. Leuzinger & Filhos, 1886.

Impressões d´Itália. Porto Alegre, Estabelecimento Typográfico de Gundlach e Cia., 1887.

Aus beiden Hemisphären: Reisebriefe. Porto Alegre, Buchdruckerei von Gundlach & Cia., 1887, 2 vols.

Introdução. In: Sacher-Masoch. D. João de Colmea. Pelotas, Pintos & C., 1887, p. 1-9.

Aus schweren Tagen. Erinnerungen aus dem Leben (Dias difíceis. Lembranças da vida). Koseritz’ deutscher Volkskalender für die Provinz Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1887, p.33-59.

Ut min Matrosen Tid. In: Koseritz’ deutscher Volkskalender für das Kaiserreich Brasilien, Porto Alegre, 1890, p.85-99. Este texto conheceu uma 2ª edição em Koseritz’ deutscher Volkskalender für Brasilien, Porto Alegre, 1927, p. 24-40.

Imagens do Brasil. São Paulo, Martins Fontes, 1972.

 

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