RELLIBRA

LIBEA - Literatura Brasileira de Expressão Alemã

PROJETO DE PESQUISA COLETIVA (USP/Instituto Martius-Staden)
Grupo de pesquisa RELLIBRA – Relações linguísticas e literárias Brasil-Países de língua alemã

Coordenação geral: Celeste Ribeiro-de-Sousa
Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã – FFLCH/USP
 

INTRODUÇÃO

Embates culturais

Celeste Ribeiro-de-Sousa

É sabido que, na formação do povo brasileiro, o cruzamento do elemento português com o elemento índio constitui, segundo Darcy Ribeiro no livro O povo brasileiro, a sua matriz étnica, um "magma" vigoroso, ao qual viriam juntar-se o elemento negro, e, depois, os imigrantes - os alemães, os italianos, os espanhóis, os árabes, os japoneses, etc. Afirma Darcy, entretanto, que essa matriz étnica proveniente da miscigenação entre portugueses e índias foi capaz de absorver os imigrantes e de "abrasileirá-los", e "apenas estrangeirou alguns brasileiros ao gerar diferenciações nas áreas ou nos estratos sociais onde os imigrantes mais se concentraram". (Ribeiro, 2000, p. 21).

Entretanto, Giralda Seyferth em Nacionalismo e identidade étnica (1982) declara que "nem a industrialização, a urbanização ou mesmo a campanha de nacionalização, conseguiram descaracterizar o grupo étnico [teuto-brasileiro]. Apenas modificaram alguns critérios que eram usualmente empregados como identificadores [...]" (Seyferth, 1982, p. 219) dessa etnia, resistente à hibridização ou mestiçagem.

Ora, este grupo étnico, chamado teuto-brasileiro, faz parte da "nação brasileira", suas produções culturais têm a ver com a cultura nacional, suas narrativas literárias podem ser consideradas literatura de minorias dentro da literatura do Brasil. Sobre esta literatura já se escreveu e escreve muita coisa. Esta Introdução, necessariamente, utiliza informações de alguns desses estudos. Em particular, citem-se os nomes de Marion Fleischer (USP), pioneira na abordagem poética dessas produções, com o livro A poesia alemã no Brasil. Tendências e situação atual (1967), produto de seu Doutorado em 1966; de Celeste Ribeiro de Sousa (USP), com o livro A narrativa literária no Anuário do Correio Serrano após 1948: temas (1980), produto de seu Mestrado em 1979; de Valburga Huber (UFRJ), com o livro Saudade e esperança. O dualismo do imigrante alemão refletido em sua literatura (1993), produto de seu Mestrado em 1979; de Ingrid Assmann de Freitas (UNESP – Assis), com o livro A máscara cai. Wolfgang Ammon no contexto da literatura teuto-brasileira (1995), produto de seu Mestrado em 1989; de Imgart Grützmann (UFPel.), com o Mestrado Onde o sabiá canta e a palmeira farfalha: a poesia em língua alemã nos anuários sul-rio-grandenses (1874-1941), em 1991; de Gerson Neumann (UFRS), com o livro Brasilien ist nicht weit von hier! (2005), produto de seu Doutorado em 2004. (Consulte-se o curriculum LATTES de cada pesquisador).

Todavia, há ainda o que explorar.

O presente projeto de pesquisa (a ser realizado a várias mãos) propõe, num primeiro momento, a formação do corpus (o conjunto dos textos fundantes) para a escritura posterior de uma "história da literatura de imigração de língua alemã no Brasil" ou de uma "história da literatura brasileira de expressão alemã", que ainda não foi redigida com a necessária exaustividade, de um ponto de vista poético e de uma perspectiva pós-colonial, levando em consideração o conjunto deste tipo de produção, ou seja, o levantamento abrangente dos autores e das obras literário-ficcionais, das poesias, produzidas por imigrantes de língua alemã e seus descendentes no Brasil, incluindo-se aí também as traduções para o alemão de obras da literatura brasileira e ensaios relevantes a esta matéria. Trata-se, na grande maioria das vezes de textos dispersamente publicados em jornais e em anuários, por entre quadros de inúmeras e variadas propagandas, “escondidos/esquecidos” em arquivos pouco conhecidos pelo Brasil. São textos em grande parte escritos em gótico que, uma vez coletados e ordenados, precisam ser transcritos para o alfabeto romano e, eventualmente, traduzidos para o português, para tornarem-se objeto de mais pesquisas literárias, linguísticas, pós-coloniais, históricas, antropológicas, sociais, pesquisas do imaginário nacional, etc.

Com certeza, colocar estes textos ao alcance do público pesquisador é abrir novas frentes para o conhecimento do que é nosso e, por extensão, para o autoconhecimento da nação. Além disso, o exame adequado desta produção literário-ficcional talvez possa contribuir para o entendimento do atual temor ante a ameaça, de um lado, da "homogeneização cultural" de que nos fala Stuart Hall, na esteira da chamada "globalização cultural" e, de outro lado, da resistência a esta homogeneização.

É fato que, hoje, o fenômeno da migração ocupa o centro de várias pesquisas e estudos pontuais, seja sobre o movimento dos argelinos rumo à França, seja dos indianos rumo à Inglaterra, ou dos turcos rumo à Alemanha. E isto ocorre em paralelo ao surgimento de produções literárias que, de alguma forma, tematizam estas grandes deslocações sociais, que vêm a dar corpo à conhecida literatura "pós-colonial", a conceitos como "hibridismo" ou “mestiçagem” e a posturas teórico-críticas como as de Edward Said em Orientalismo. O oriente como invenção do ocidente ou Cultura e imperialismo, ou ainda de Homi Bhabha em O local da cultura, ou ainda de Ian Buruma e Avishai Margalit em Ocidentalismo. No entanto, o fenômeno não é novo. Lembremo-nos, só à guisa de ilustração, do deslocamento antiquíssimo dos povos germânicos rumo ao sul da Europa no alvor da Idade Média, o que em alemão é conhecido como "Völkerwanderung", ou das intensas movimentações dos europeus em direção ao novo mundo, isto é, às Américas, particularmente, no século XIX.

Se hoje, as pessoas se movem das chamadas periferias para as metrópoles, onde almejam o entrosamento, a inclusão, no citado século XIX, as pessoas deixavam as periferias das metrópoles, o campo, para se estabelecerem em mundos intocados, onde era, supostamente, possível iniciar do zero. Neste contexto, muitos alemães chegaram ao Brasil a partir de 1824, data que oficializa o começo da imigração alemã para o nosso país.

Partimos de uma postura "teórica" hodierna, considerando: 1. que a História, a macro-história, a história oficial, é constituída por registros/discursos paradigmáticos que, embora legitimados e estabilizados pelo grupo/nação, são oriundos da classe dominante, 2. que, sobretudo a partir das discussões da conhecida "École des Annales", onde a História passa a ser vista como "un grand récit", a validade desse(s) discurso(s) como verdade universal é colocada em questionamento e relativizada. A revisão das leituras da História feitas, até agora, entram, assim, em pauta de discussões. Essa revisão leva, nos países um dia colonizados, à pesquisa dos textos produzidos pelos chamados dominados/colonizados, portadores de outros paradigmas culturais, considerados "marginais", subtraídos ou silenciados neste âmbito, e, neste caso, as memórias passam a ocupar um papel fundamental.

Edward Said mostra, na obra acima mencionada Orientalismo. O oriente como invenção do ocidente, que "a dominação e as injustiças do poder e da riqueza são fatos perenes da sociedade humana" (Said, 1990, p. 5), portanto o levantamento e o desvelamento de um "novo" saber poderá conduzir a outras possibilidades de leitura daquilo que se considerou ou considerava como história oficial ou como macro-história. Esse novo saber irá nos colocar, como diz Bhabha, em "um momento de trânsito em que o espaço e o tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferença e de identidade, passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão". (Bhabha, 1998, p. 19).

Uma parte considerável desse saber foi e permanece arquivado em obras literário-ficcionais "marginais", escritas por grupos dominados/colonizados e que podem oferecer novas chaves para a compreensão dos sistemas de colonização, ou seja, para uma visão em profundidade de mecanismos e de relações de poder até agora "desprezados".

Um dos sintomas que mais evidencia essa ocorrência aloja-se na estrutura identitária fragmentada de uma cultura, de uma nação. A colonização, geralmente motivada por tensões entre relacionamentos econômicos e de poder, pode expandir-se tendo em vista o mero povoamento, ficando, portanto, limitada ao próprio território nacional, ou tender para a exploração exclusiva do solo estrangeiro, o que força e fomenta deslocamentos de sujeitos do território nacional para o território estrangeiro para aqui exercerem seu modo de vida e imporem sua própria cultura.

No caso da colonização do Brasil, distanciada da canônica colonização promovida pelo Reino Unido ao redor do mundo, as tensões e relações econômicas e de poder precisam ser especificamente nuanceadas, porque à exploração do solo, associou-se a necessidade de povoamento, estimulando a imigração de europeus, em terras onde o colonizador ocupou uma posição ambígua, ora de colonizador, ora de colonizado, como adverte Boaventura de Sousa Santos em seu livro Gramática do tempo.

Se nos basearmos em A dialética da colonização de Alfredo Bosi, por exemplo, veremos que, numa moldura mais externa, entre os anos 1860 e 1880, vai ocorrer um "segundo recontro [...] forte da dialética da colonização mercantil [do país, caracterizada no começo pelo] contraste entre uma ordem religiosa militante e uma frente econômica predatória". (Bosi, 1992, p. 379).

Neste "segundo recontro", em que as imigrações e, dentre elas, a de língua alemã, se inserem,

 

o país já alcançara a independência no plano jurídico e gravitava, como as demais formações colonizadas, ao redor do imperialismo britânico. A questão nodal era entrar, ou não, no regime de trabalho livre, e aceder, ou não, aos mecanismos do capitalismo pleno.

A linguagem do escravismo, dura e pragmática, honrava-se com o nome então sagrado de liberal. O adjetivo, posto naquele contexto, não era de todo impróprio nem paradoxal na medida em que recobria os princípios do livre comércio e da não-ingerência do Estado na órbita da produção. Ambos os lemas tinham recebido o aval de Adam Smith e, entre nós, de um smithiano precoce e convicto, o visconde de Cayru, abridor de portos e portas. A esse liberalismo afinal já moderno, em confronto com o antigo pacto monopolista, mas ainda conservador, enquanto agrário e escravagista, vai opor-se o liberalismo novo de Tavares Bastos, Joaquim Nabuco, Rui e André Rebouças, propugnadores de um mercado de trabalho assalariado, logo abolicionistas.

Duas ideologias: uma, rente aos negócios clânicos do açúcar e do café valparaibano [...]; outra, aberta para um horizonte amplo, internacional. Uma, agarrada ao presente imediato e, daí, aparentemente mais sensata e próxima de suas raízes; a outra, clarividente e lungimirante, e por isso malvista pela primeira como descompassada e importuna em face da realidade nacional (Bosi, 1992, p. 380).

 

Continuando com o pensamento de Bosi no traçado da moldura mais externa da colonização do Brasil, vamos encontrar um terceiro momento dialético forte desta mesma colonização. Diz Bosi que

 

sobrevindo a Abolição e a República, [é possível detectar que] os interesses da classe dominante manobram uma estrutura federativa, pseudonacional, [uma república em que] o liberalismo darwiniano das maiores agremiações estaduais [...] alia a estreiteza sufocante das paixões regionalistas ao cosmopolitismo [...], mistura interessante que ainda se entremostra nos vaivéns e nas ambiguidades dos modernistas de 22. (Bosi, 1992, p. 281).

 

Por outro lado, são igualmente perceptíveis outros grupos que concebem o "´Estado Nação´ como um sistema ainda a construir: uma formação integrada e ´orgânica´, um país menos pendente de uma só classe e do seu destino" (Loc. cit.). Estariam nestes grupos, por exemplo, "os republicanos gaúchos da Geração de 1907 e a fronda dos tenentes" (Bosi 1992: 281). Ainda segundo Bosi,

 

os castilhistas do Sul, escorados nos tenentes [...] conquistaram o poder central e absorveram tacitamente alguns traços ideológicos de doutrinas que - à direita e à esquerda - rejeitavam os dogmas do laissez faire deveras abalados com a crise de 29. Edificou-se então o Estado-Providência brasileiro, que, para bem e para mal, ainda se mantém de pé. (Bosi, 1992, p. 281).

 

Conclui Bosi que

 

a dialética da colonização perseguida [pelo Brasil ...] não é tanto a gangorra de nacionalismo e cosmopolitismo (que se observa também em culturas européias) quanto a luta entre modos de pensar localistas, espelho dos cálculos do aqui-e-agora e projetos que visam à transformação da sociedade recorrendo a discursos originados em outros contextos, mas forrados de argumentos universais. (Bosi, 1992, p. 282).

 

Entre estes “modos de pensar localistas” e os "discursos originados em outros contextos" deveria igualmente ser colocada a produção literário-ficcional dos imigrantes de língua alemã, que aqui aportaram, como merecedora do levantamento abrangente e da sistematização acima apontados como um primeiro passo para disponibilizá-la em plenitude a um público pesquisador interessado mais amplo.

Ora, vimos, com Bosi, a moldura mais externa que contorna a formação do Brasil enquanto nação. É possível, agora, adentrar esta moldura e focalizar o fenômeno da imigração alemã no Brasil.

A grande maioria dos imigrantes de língua alemã que aqui chegou, embora tivesse na Europa proveniências diferentes (vários reinos, ducados, principados, de economia empobrecida, preponderantemente agrária e feudal, em que a Alemanha se encontrava pulverizada ao final do Sacro Império), logo desenvolveu no país de adoção um sentimento de pertença conhecido como Deutschtum, talvez traduzível por germanidade, um sentimento veiculado e propagado através de jornais, folhetos comemorativos e almanaques publicados em língua alemã, e nestes também através de formas simbólicas literário-ficcionais.

Este sentimento de Deutschtum, no entanto, sofre alterações paulatinas no correr dos tempos. Muitas dessas nuances já foram identificadas, outras não.

O primeiro jornal teuto-brasileiro veio a lume em Porto Alegre em 1852, seguido de outras numerosas publicações até 1941, quando Getúlio Vargas proibiu o uso da língua alemã em território nacional. Durante esse período verificam-se dois picos de intensidade na divulgação desse Deutschtum no Brasil: de 1893 a 1918 - período em que a Alemanha, isto é, os vários Estados, principados, ducados e cidades livres de língua alemã são aglutinados "com ferro e sangue" (mit Blut und Eisen) sob a hegemonia da Prússia liderada por Otto von Bismarck, e outro período que vai de 1930 a 1945, sob a liderança de Adolf Hitler, que ressuscita a ideia mirabolante do Terceiro Império (Romano-Germânico).

Diz G. Seyferth que este sentimento de Deutschtum, ao chegar com os e/ou aos imigrantes de idioma alemão tem "subjacente à ideologia [...] a ideia de solidariedade e igualdade entre os que participam de uma identidade étnica comum, e oposição em relação aos que têm identidade nacionalista transformada ou modificada em ideologia étnica". (Seyferth, 1982, p. 4).

É possível que este Deutschtum deite raízes em Lutero, pelo significado que seu trabalho com a tradução da Bíblia para a língua alemã trouxe para a criação da norma culta do idioma, e estenda ramos no chamado Pré-Romantismo (Sturm und Drang) e no Romantismo desenvolvido por Johann Gottfried Herder, que empregou o conceito de Volksgeist (alma ou espírito do povo), pelos irmãos August e Wilhelm Schlegel e Jacob e Wilhelm Grimm, por Ludwig Tieck, por Novalis, Johann Gottlieb Fichte e Friedrich Wilhelm von Schelling.

Ora, este Romantismo alemão, além do Volksgeist, alimentou realmente a ideia de nacionalismo. Lembremo-nos de que a Alemanha tal como a conhecemos hoje data de 1990. As suas fronteiras políticas variaram imensamente desde que Carlos Magno fundou o seu império, que depois deu origem ao Sacro Império Romano-Germânico, o qual, com o correr do tempo, acabou por se enfraquecer em vários principados, ducados, cidades livres, até a época de Bismarck que, em 1870, conseguiu a reunificação da maioria dos "fragmentos" e constituiu o que se chamou de Kaiserreich (Segundo Império), sob a hegemonia do reino da Prússia, conhecido pelo desenvolvimento industrial que promoveu. A Áustria fora excluída desta unificação, entre outros motivos, por causa do seu multinacionalismo. Este Segundo Império desabou com o fim da Primeira Grande Guerra, de onde a Alemanha saiu com o nome de Weimarer Republik (República de Weimar) e com outras fronteiras. Esta República de Weimar vai ser substituída em 1933 pela ditadura de Hitler que, com ela, cria o Terceiro Reich (Terceiro Império) que, por sua vez, vem a desencadear a Segunda Guerra Mundial e o seu fim. Desta derrota emergem duas Alemanhas: A DDR - Deutsche Demokratische Republik (República Democrática Alemã - pró-soviética) e a BRD - Bundesrepublik Deutschland (República Federal da Alemanha - pró-Estados Unidos). Em 31.08.1990 estas duas Alemanhas voltam a unificar-se sob o governo do chanceler Helmut Kohl, e assim continuam até hoje.

Então, voltando ao Romantismo, observamos que nessa época a Alemanha carecia de unidade política, e são os românticos que começam a levantar o problema da fragmentação, movidos pela experiência da invasão napoleônica (1803) e pelas Guerras da Libertação (1813-15). Todavia, para além de uma libertação do jugo da França, os românticos também queriam ressuscitar um sentimento de pertença a um grupo, a uma nação, a uma cultura alemã, e passam, por isso, a valorizar e mesmo a glorificar raízes medievais encravadas, por exemplo, nos Märchen e em outras lendas, nos cantos populares, que coligiram e a que deram registro escrito, a enaltecer as paisagens (o Rio Reno foi transformado em rio nacional), os costumes e a própria língua. Passam, então, a fazer parte do horizonte dos intelectuais os conceitos de pátria e de nação. No entanto, eram conceitos bastante vagos do que seria uma nação alemã, o que resultou na ocorrência de múltiplos significados para Deutschtum. É Bismack quem vai acrescentar aos semas de nacionalismo um cariz político, tendo atrás de si filósofos como Fichte e Georg Wilhelm Friedrich Hegel e o historiador Heinrich von Treitschke.

 

Quatro características marcam o nacionalismo alemão do final do século XIX e primeiras décadas do século XX: a política expansionista de Guilherme II, estimulada pela Liga Pangermânica [não nos esqueçamos que Bismarck fora o criador das colônias alemãs na África: Namíbia e Camarões, só para acompanhar as outras potências]; o racismo vinculado à doutrina nacionalista, com base nos trabalhos de Gobineau, Chamberlain, Dühring e Wagner, que teve como consequência o recrudescimento do anti-semitismo e a elevação do mito ariano à categoria de doutrina nacional; a propaganda em torno de uma marinha forte que permitisse uma concorrência ao poderio naval britânico; e o ódio dirigido contra a Inglaterra, principal empecilho ao expansionismo alemão. (Seyferth, 1982, p. 35).

 

Nos estatutos da Liga Pangermânica (Alldeutscher Verband), fundada em 1890, depois da demissão de Bismarck, sintomaticamente transcritos, em 1900, no Anuário Urwaldsbote Kalender (Mensageiro da floresta virgem), às páginas 101 e seguintes, pode-se, por exemplo, ler:

 

§ 1. A Liga Pangermânica pretende a animação do caráter nacional alemão em todo o mundo, a conservação da índole e dos costumes alemães na Europa e além-mar, e a união total do Deutschtum...§ 2. Quando os meios adequados para alcançar estes objetivos forem considerados pela Liga Pangermânica sem prejuízo para o parágrafo 1, os grupos preservarão sua autonomia: 1. animação da consciência nacionalista na pátria e campanha contra todos os desenvolvimentos nacionais de direção contrária; 2. solução das questões das constituições, educação e escola no espírito do nacionalismo alemão; 3. cuidado e proteção dos esforços nacionais alemães em todos os países onde existem afiliados do nosso povo, e lutar pela manutenção da sua particularidade (Eigenart), e a concentração de todos os alemães do mundo para este objetivo; 4. exigência de uma enérgica política de interesses alemães na Europa e além-mar, especialmente da continuação do movimento colonial alemão com resultados práticos. § 3. Cada alemão íntegro pode ser membro da Liga Pangermânica, sem levar em conta sua cidadania (Staatsangehörigkeit)... (Seyferth, 1982, p. 36).

 

Portanto, para os alemães, tanto na Europa, quanto fora da Europa, é possível pertencer à comunidade alemã (a nacionalidade alemã é determinada pelo jus sanguinis) e, simultaneamente, pertencer a um outro Estado, sem embaraços. Os teuto-brasileiros, por exemplo, continuariam a ser alemães ao mesmo tempo em que são brasileiros, e isto não constitui problema (para eles). Chegou-se ao ponto de o imperador Guilherme II dizer: "Não existem mais partidos, mas somente alemães." (Seyferth, 1982, p. 39).

A Alemanha foi derrotada na guerra de 1914-1918: a busca da unidade alemã não foi alcançada. A República de Weimar, que veio a incorporar as novas fronteiras da Alemanha, ilustrou o caos político que se sucedeu, sem que, contudo, se tivesse apagado a esperança da almejada unificação. Como se sabe, Hitler surgiu de dentro desta República, e soube como ninguém explorar esse anelo. Além de ter ressuscitado tudo o que a Liga Pangermânica exaltava, proclamou ainda que

 

as fronteiras dos Estados alemães devem deixar de existir, na medida em que os ideais nacional-socialistas e a própria nação alemã não dependiam de fronteiras. Por isso, a doutrina nazista reclamava para si o direito de ultrapassar fronteiras, onde quer que existissem indivíduos ou populações da 'raça teutônica'. [...] Segundo o pensamento nazista, os alemães deveriam constituir um Herrenvolk (povo de senhores) cujo destino seria dominar o mundo, objetivo que por si mesmo justificava a guerra. (Seyferth, 1982, p. 41).

 

Hitler leva ao limite a trilha aberta pelo militarismo prussiano e pelo pangermanismo, tendo cooptado para sua "teoria" nomes como os de Richard Wagner, Joseph Chamberlain, Joseph Arthur de Gobineau, Karl Lueger, e outros. Assim, ergue a noção de superioridade da raça teutônica (ariana), recebida através da consanguinidade.

Se depois da Primeira Guerra Mundial há, junto aos imigrantes de língua alemã no Brasil, uma reação extremada a favor da Alemanha e contra a Inglaterra e a França, o mesmo não se pode afirmar da época nazista. É verdade que, a partir de 1930, o jornal Blumenauer Zeitung torna-se o maior propagador dos ideais de Hitler, bem como os dos integralistas brasileiros. O Urwaldsbote acompanha-o nesta tarefa. Todavia, em paralelo ao esforço de intensificação máxima do sentimento de "Deutschtum" junto aos "teuto-brasileiros", também fica cada vez mais forte a evidência de um outro conceito dele derivado: o "Deutschbrasilianertum" (germano-brasileirismo), ou seja, "o teuto-brasileiro pode 'permanecer' com sua identidade étnica alemã sem que isto afete suas relações patrióticas para com o Brasil, e muito menos seus deveres como cidadão brasileiro." (Seyferth, 1982, p. 74). Ou ainda, o teuto-brasileiro é "o indivíduo que fala o alemão como sua língua materna, tem ascendência (sangue) alemã, se considera membro da comunidade nacional (étnica) alemã, mas cuja lealdade política pertence ao Brasil e não à Alemanha." (Seyferth, 1982, p. 77). São feitas, agora, concessões à cultura brasileira, aceitando-se o português como segunda língua. Este sentimento de Deutschbrasilianertum torna-se tanto mais intenso, quanto maior se torna o contato com os chamados "alemães novos" (Neudeutsche) para cá enviados com a tarefa específica da doutrinação nazista. E, como diz Seyferth, o esforço de resgatar os "teuto-brasileiros" para o Reich acaba frustrado. Em texto comemorativo do "dia do colono", lê-se no Urwaldsbote (ano 45, nº 7, 23/7/1937):

 

Durante mais de cem anos, honrados homens e mulheres alemãs estabeleceram aqui no Brasil, na floresta virgem, uma pátria (Heimat) para si e seus descendentes. Esta pátria os colonos alemães construíram eles próprios lutando com indescritíveis sacrifícios. Da mesma forma que os velhos Bandeirantes, eles desbravaram o Brasil, enriquecendo sua nova pátria a cada ano com seu trabalho. Eles não têm de agradecer a ninguém, mas sentem um amor agradecido pela nova pátria (Vaterland) que ofereceu para eles e seus descendentes uma Heimat. Eles não são aqui pacientes estrangeiros, mas sim legítimos brasileiros, tanto quanto os descendentes das famílias lusitanas bandeirantes... Estes cidadãos teuto-brasileiros estão firmemente enraizados na pátria (Heimat) que eles próprios criaram... Nossos antepassados alemães e avós deixaram a velha pátria alemã, para aqui encontrar uma nova. Nos seus corações, contudo, trouxeram a pátria alemã para cá... E como nos corações humanos repousa a única e verdadeira pátria, assim os velhos imigrantes alemães trouxeram consigo, em seus corações, o melhor e o essencial da sua velha pátria: a particularidade alemã, a língua materna alemã e a lealdade alemã. E este Bem seus filhos e os filhos dos seus filhos mantiveram e herdaram como uma riqueza inalienável e insaciável. Esses bens herdados dos antepassados são exatamente o fator, a torrente de força, à qual os imigrantes alemães devem seu êxito em todo o mundo. Os cidadãos brasileiros de origem alemã, através dos sacrifícios e ações dos seus antepassados e do seu próprio trabalho pelo desenvolvimento desta terra, adquiriram o direito total de pátria, tal como os cidadãos de ascendência portuguesa , italiana, ou outra. (Apud Seyferth, 1982, p. 96-97).

 

 

Mas os imigrantes de língua alemã não carregaram para o Brasil somente a ideia do Deutschtum. Trouxeram igualmente, em seu imaginário, uma "arqui-imagem" fantasiosa do Brasil que receberam quer de narrativas de viagem em idioma alemão, quer de textos da própria literatura de língua alemã, imagem esta que foi realimentada pela propaganda produzida pelo Brasil e veiculada nos países de fala alemã, principalmente no tempo dos imperadores D. Pedro I e de D. Pedro II. Deste assunto tratam os livros A narrativa literária no Anuário do Correio Serrano após 1948: temas e Retratos do Brasil. Heteroimagens literárias alemãs de Celeste Ribeiro de Sousa.

A presença de gente de língua e cultura alemãs no Brasil já se faz no acontecimento designado por "Descoberta". Há notícias de homens de origem alemã engajados nas caravelas portuguesas. O primeiro documento em língua alemã a dar notícia do Brasil data de 1515, com o título "New Zeutung aus presillandt" (Nova gazeta da terra do Brasil) (apud Siegel, 1937), de autoria desconhecida, de que se conhecem 3 edições. Trata-se de um documento que dá notícia da viagem de regresso de D. Nuno Manuel, transportando escravos índios para Portugal, de observações pormenorizadas do relevo, da flora e da fauna brasileiras e das potencialidades comerciais da nova terra.

Em 1557, Hans Staden, arcabuzeiro da armada de Sanabria, publica, em Marburgo, o livro Wahrhaftige Historia, traduzido para o português como Duas viagens ao Brasil em que narra suas experiências vividas nessas terras, seu aprisionamento entre os índios Tupinambá em São Vicente e a sua posterior fuga para a Alemanha. Este texto, com o tempo, obtém mais de 50 edições, tendo sido traduzido para várias outras línguas.

Há também alemães que servem no Brasil como "militares", colaborando na manutenção do território, como por exemplo, Emanuel Beckmann, ou o Major Siegmund von Schkoppe, conforme dá notícia Carl Fouquet em seu livro Der deutsche Einwanderer (O imigrante alemão).

Muitos outros alemães vêm ao Brasil e publicam suas impressões posteriormente. Conta Carl Fouquet, na mesma obra citada, que ao tempo de Carlos V (1550) há notícia de alemães que haviam conseguido se estabelecer em Pernambuco, onde vieram a se ocupar de engenhos, de "estaleiros", etc., a fim de enriquecerem. É este o caso da família Lins na segunda metade do século XVI.

Também no grupo dos jesuítas evangelizadores havia, segundo Fouquet, "alemães", como Johann Heinrich Böhm. Esta presença passa a ser muito forte a partir do século XVIII. Entre os padres alemães mais conhecidos da época estão Johann Philipp Betendorf e Anton Sepp Rechagg.

Sabe-se que, ainda segundo Fouquet, entre 1630 e 1654, durante a época mais belicosa da ocupação holandesa no Brasil, havia vários indivíduos de fala alemã entre as forças de ocupação e que, uma vez retornados à pátria, certamente relatam a seus conterrâneos suas experiências no Brasil.

Muitos pesquisadores também estiveram no país, entre eles, Georg Markgraf que escreveu Historia naturalis Brasiliae, publicada em 1648 em 12 volumes. Normalmente, junto com os pesquisadores viajam artistas pintores ou desenhistas, como Langsdorff ou Rugendas.

No final do século XVIII e no começo do XIX, várias pessoas de língua alemã vêm ao Brasil, incorporadas às forças portuguesas que defendem e asseguram as fronteiras da colônia. Entre os nomes mais célebres estão os de Johann Anton Böhm, Johann Karl August von Oeynhausen-Grevenburg, mais tarde Marquês de Aracati, por ordem de D. Pedro I, e Wilhelm Ludwig Freiherr von Eschwege.

Com D. João VI, além dos artistas franceses Debret e Taunay, vem igualmente o músico austríaco Sigmund von Neukomm, professor dos príncipes da Casa de Bragança.

Em 1801, o botânico alemão Friedrich Wilhelm Sieber chega ao Brasil e procede a estudos botânicos e geológicos no vale do Amazonas.

A partir de 1817 o número de falantes de alemão aumenta. É nesta época que Dona Leopoldine von Habsburg, filha de Franz I, imperador da Áustria, chega à corte de João VI no Rio de Janeiro, a fim de desposar D. Pedro I. Na verdade, ela casa por procuração em Viena no dia 13 de maio de 1817. A presença da princesa austríaca torna-se, então, uma referência para a vinda ao Brasil de artistas e cientistas de origem germânica, bem como de uma gama variada de outros imigrantes, como artesãos, soldados, comerciantes, profissionais liberais e camponeses, também falantes do idioma alemão.

Leopoldine era cunhada de Napoleão I, irmã de Maria Luise. É ela quem passa a dar visibilidade ao novo império do Brasil. Trata-se de uma princesa proveniente de uma corte sofisticada, que cultivava as artes, a música, a pintura, um centro da cultura européia. Só para termos uma ideia, são desta época as composições de Mozart, de Beethoven, de Schubert, de Brahms. Goethe havia escrito a primeira parte do Faust em 1808.

Não possuía a princesa a beleza de sua irmã mais velha Maria Luise, embora não chegasse a ser feia. Era de estatura mediana, vigorosa, boa figura, cabelos louros e olhos azuis e cútis quase vermelha. Era agradável, suave, amável, e, no entanto, de porte nobre. Sua bondade extraordinária logo cativou a gente brasileira. Um francês de nome Jacques Arago assim a ela se refere: "nunca me cansei de admirar o encanto desta infeliz princesa" e Ferdinand Denis diz que ela era "a mais pura e nobre das mulheres".

D. Pedro quase dois anos mais velho do que ela, era seu oposto: dadas as circunstâncias da vinda de sua família para o Brasil, não chegara a receber educação formal. Era, além disso, um homem sensual e apaixonado, sem sofisticação, pouco erudito. Era ele a ilustração acabada do estereótipo do homem latino, do homem do sul, moreno, de olhos castanhos, sentimental, apaixonado, impulsivo; ela a ilustração cabal da mulher do norte: loura, olhos azuis, comedida, racional, sofisticada e erudita. Consta que falava com fluência francês e italiano e aprendia inglês, português com facilidade. Pintava retratos e paisagens e tocava primorosamente piano. Gostava de ciências naturais. Era versada em História e Geografia e também entendia de Economia. Chega ao país já detentora de todas as informações sobre o território. Não gosta das questões políticas, desagrado confessado em cartas, quando tem de se empenhar na defesa da regência do príncipe.

Outros pesquisadores alemães continuam a aportar ao Brasil em 1817 e aqui permanecem até 1820. Johann Baptist Spix, zoólogo, e Karl Friedrich Phillip von Martius, botânico, realizam pesquisas e fazem levantamentos da flora e fauna brasileiras, mais tarde publicados em forma de livros, hoje famosos. Em 1817 e em 1819 são publicadas na Alemanha respectivamente as obras Reisen in Brasilien (Viagens no Brasil) e Neuestes Gemälde von Brasilien (Novíssimo retrato do Brasil) de Ch. A. Fischer. Por esta mesma época, Adelbert von Chamisso, autor de Peter Schlemihls wundersame Geschichte (A história singular de Peter Schlemihl) viaja ao Brasil, como participante de uma viagem exploratória, e suas observações sobre o nosso país surgem no livro Reise um die Welt (Viagem à volta do mundo) de 1836.

Quadros políticos e doutrinas mostram que são intercambiáveis. Também as ideologias e a política interpenetram a corte brasileira. Se, a monarquia portuguesa substitui o colonial barroco pelo Neo-classicismo francês, os imigrantes trazem consigo, sobretudo, ideais românticos e realistas.

Com o desenvolvimento das linhas férreas e marítimas, capazes de unir grande distâncias e de ligar continentes em viagens regularmente realizadas, viajar ao Brasil torna-se acessível a um número maior de pessoas. Esta nova fase do desenvolvimento europeu dá origem a um grande número de publicações de relatos de viagem.

Mas, ao lado dos artistas e cientistas, dos comerciantes, que chegam a fundar a Sociedade Germania (Gesellschaft Germania), a mais antiga associação cultural e recreativa de caráter étnico surgida no país, começam a vir também camponeses. E estes não vêm no séquito da princesa. Por que vêm, então?

Vejamos o que está acontecendo no espaço geográfico ocupado pelas pessoas de língua e cultura alemã. A Alemanha a esta época, isto é, findo o Sacro Império, existe com o nome de "Federação alemã" (Deutscher Bund). O que quer isto dizer? Que a Federação Alemã é composta por Estados, principados, reinos autônomos, com governo próprio, mais ou menos independentes uns dos outros. Depois de 1815, constituem a "Federação Alemã", os governos de Holstein, de Hamburg, de Bremen, de Hannover, de Oldenburg, de Mecklenburg/Schwerin, de Mecklenburg/Strelitz, de Braunschweig, de Anhalt, de Waldeck, de Hessen, de Nassau, de Bayern, de Württemberg, de Baden, dos Thüringische Staaten, de Österreich (Áustria) e de Preußen (Prússia). Os anos que vão de 1815 a 1848, ou seja, o período que vai do Congresso de Viena à revolução burguesa de 1948, isto é o período conhecido lato sensu como Vormärz, constituem uma época marcada por vários movimentos revolucionários muito diferenciados entre si, mas que exigem, em comum, reformas no sistema da "Federação Alemã", especificamente, liberdade no campo político, econômico e social. E mais, exige-se que a "Federação Alemã" se transforme num Estado unitário fundamentado num parlamento. Surge então uma solidariedade entre as oprimidas e exploradas camadas burguesas contra as forças monárquicas que impedem a unificação e o desenvolvimento econômico das populações. De fato, no campo, grassa a miséria entre os camponeses, ainda servos da gleba, que não vêem perspectivas de vida melhor.

A revolução industrial chega tarde à Alemanha, por conta deste estilhaçamento político, que cria inúmeras barreiras alfandegárias à circulação das mercadorias, com pagamento de tributos. Fora destas fronteiras, na França e na Inglaterra, por exemplo, já há plena liberdade, o que faz com que os bens de consumo estrangeiros invadam estas minúsculas economias, empobrecendo-as ainda mais, portanto, forçando os inúmeros ducados e principados alemães a permanecerem, sobretudo, agrários, não permitindo que a incipiente indústria alemã se desenvolva. De um lado, os camponeses não têm acesso à posse da terra que pertence aos grandes senhores que exploram o seu trabalho; por outro lado, quando chegam ao trabalho na indústria que começa a ser implantada também são explorados (trabalham mulheres e crianças em teares, em fábricas de tabaco). Há, então, muita miséria na Alemanha.

O que acontece no Brasil do Império? Ao tempo de Pedro I e Leopoldine da Áustria, no país predominam o latifúndio e a mineração. A princesa sabe, por experiência em sua própria terra, que a economia do país não poderá vingar se não houver uma autêntica classe camponesa. E, com isso, tem em mente que não se trata apenas de ter camponeses para o povoamento e para o cultivo da terra, mas também de poder contar com seus filhos para o exército, e com indivíduos que haverão de preferir as cidades. É assim que D. Pedro, D. Leopoldine e José Bonifácio decidem estimular a vinda de gente de fala alemã para o Brasil. Junto com as pessoas, a princesa também manda trazer animais e plantas tipicamente europeus para aculturá-los ao clima do país.

Mas o que move um indivíduo a emigrar? Múltiplos fatores. Talvez entre os mais palpáveis estejam as dificuldades econômicas. Entretanto, também sobressaem as motivações sociais, religiosas, ideológicas e a tão famosa "Fernweh" alemã: essa saudade atávica projetada na distância e no futuro, a busca da utopia, do paraíso.

O Brasil surge aos olhos dos emigrantes como o paraíso na terra, um refúgio para onde correr, seja para ficar rico, seja para fugir da justiça européia ou da discriminação social, seja para fugir das guerras.

A primeira leva de pessoas de língua alemã, camponeses em sua maioria, chega em 1818 e é assentada numa colônia em São Jorge dos Ilhéus (Bahia) que leva o nome de Leopoldina. Logo a seguir, neste mesmo ano, chega outra leva que segue para Nova Friburgo (Rio de Janeiro). Estes dois assentamentos, no entanto, não são bem sucedidos. Todavia, o fluxo migratório prossegue e intensifica-se em 1824, estendendo-se até 1930.

A partir de 1824, grupos de imigrantes de língua alemã chegam ao sul do país, época da fundação da colônia agrícola de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, que passa a ser marco oficial do início do processo de colonização alemã, que se fará a partir de agora de modo sistemático e que será registrado e recriado em textos literário-ficcionais produzidos e consumidos no âmbito das colônias.

Em Jedem sein Paradies (A cada um seu paraíso) de Otto Grellert, por exemplo, é narrada a história de pessoas de idioma alemão, que vieram para o Brasil, atraídas por ofertas mirabolantes publicadas em jornais:

 

Alemão! Por que trabalhas ainda como servo para senhores estranhos? Por que sofres ainda de fome num pedaço de terra acanhado? Vai para o Brasil! O país mais rico do mundo com suas florestas virgens incomensuráveis espera por ti. Lá podes, também tu, tornar-te um senhor, em solo e terra próprios. As melhores terras do Brasil estão sendo divididas e vendidas em nossos dias. Já está demarcado o lugar onde deve ser construída a cidade mais moderna, com igrejas, escolas, hospitais, bancos e lojas. O planejamento já está concluído. Estradas largas e excelentes deverão em breve ser construídas e também se pode contar para logo com a construção da estrada de ferro. Em quase todas as colônias há tanta madeira disponível, que ela por si só poderá cobrir, em pouco tempo, o preço da compra. Trabalhador! Pequeno agricultor! Apressai-vos!  Assegurai para vós e para vossos filhos o futuro! Assegurai para vós o melhor solo do Brasil! (Trad. autora. Grellert, 1954, p. 173)[i].

 

Neste texto, os alemães Michael e Gotthilf ficam empolgados com o anúncio publicado em um jornal na Alemanha que, por seu tom persuasivo e pelo contexto ambíguo, alcança seu objetivo: atrair colonos ao Brasil. É um anúncio que começa por questionar a situação econômica dos leitores, e impressiona exatamente aqueles que não estão contentes com sua sorte. Neste caso, atinge os amigos Michael e Gotthilf, operários que possuem apenas uma casinha e uma horta para uma família grande. O anúncio, além de chamar a atenção para problemas existentes no país de origem, oferece solução fácil para resolvê-los. Tal solução consiste na vinda para o Brasil. O trecho em pauta aponta para as condições de vida difíceis no solo pátrio, ao mesmo tempo em que expõe as vantagens da emigração, de sorte que os leitores são levados a idealizarem a realidade brasileira. As melhores terras do Brasil encontram-se à disposição de colonos. O anúncio não discrimina, entretanto, as condições em que se encontram tais terrenos. São áreas de florestas virgens, bem diferentes das florestas européias, que os próprios colonos deverão devastar sob sol sufocante, para depois preparar a terra para as sementeiras, sujeitas ainda ao perigo de enchentes e pragas de macacos. O anúncio acena com a construção de uma cidade moderna, de escolas, hospitais, bancos, lojas, estradas, ferrovias, mas não adianta que os próprios colonos serão seus construtores. Menciona a riqueza da madeira existente, mas não se refere às dificuldades do transporte, às distâncias a serem percorridas. E, assim, com base na ausência deliberada, no silenciamento, do real contexto referente ao espaço físico brasileiro, erguem-se os castelos de areia dos dois imigrantes alemães que, logo ao chegarem ao Brasil, os vêem ruir:

 

A conta de Michael estava certa, pois Goldenberg dissera que o dinheiro da sua casinha tinha dado exatamente para a viagem até Santos [...]

Agora, de fato, ali estavam, diante de seus olhos, imensas, infindas, as terras cobertas de floresta virgem, muito mais extensas ainda do que tinham ousado imaginar [...]

Para o sinal, eles teriam que ganhar algum dinheiro. Para isso encontrariam também boas oportunidades na floresta. Eles poderiam, por exemplo, começar imediatamente a trabalhar na construção da estrada, ou então ir para a floresta. [...]

E lá estavam eles em pleno paraíso sonhado, em frente a uma escola que não os satisfazia de nenhum ponto de vista. [...]

Lá estava ele agora, o ambicionado “dono de terras próprias”, debaixo daquele calor, com a picareta nas mãos, sem uma casinha com horta a que pudesse chamar sua. [...]

Onde está aqui, afinal, a moderníssima cidade com escolas e sabe-se lá o que mais? Onde estão as estradas excelentes e onde a ferrovia? Tudo não passa de blefe! [...]

“Mas eu imaginei isto tudo completamente diferente”, disse Michael sem refletir.[...]

[Também Gotthilf, embrenhado na floresta,] verteu [...] vários litros de suor e sua Cathrein alguns rios de lágrimas." (Trad. autora. Grellert, 1954, p. 176-178)[ii].

 

Em Die alte Truhe (O velho baú), Hilda Siri detém-se na imagem de colonos que vieram para o Brasil, a fim de povoar e cultivar as terras brasileiras; vinham movidos pelo desejo de possuírem uma fazenda, uma propriedade sua, bens que estavam fora de seu alcance em seu país de origem e que lhes proporcionariam a liberdade almejada: “´Irmão´; disse ele, ´nós vamos emigrar, minha mulher, meu filho e eu. Estou farto de trabalhar sempre em terras arrendadas, quero ser um camponês livre em gleba própria´”.[iii] (Trad. autora. Siri, 1954, p. 82).

No entanto, as coisas no Brasil não correspondem às ilusões criadas. As tarefas a serem realizadas são hercúleas: abertura de clareiras nas florestas virgens, construção de abrigos de madeira, plantio e replantio de hortas que são arrasadas por bandos de macacos ou por enchentes. Diante de um mundo tão inóspito ressalta a força heróica dos imigrantes. Imigrantes que se deparam no novo mundo com o isolamento atroz, isolamento físico, isolamento linguístico, isolamento social, isolamento psicológico. O isolamento físico é determinado pelas distâncias imensas entre uma casinha e outra, entre a casa e o médico; o isolamento linguístico é óbvio: o alemão é uma língua bem diferente do português; isolamento social, porque dentro e fora da colônia foram-se criando desconfianças a partir de diferenças culturais entre alemães e seus descendentes e brasileiros de ascendência portuguesa. Diante de tudo isto, a solidão psicológica instaura-se e ativa a memória e a saudade do passado e da pátria, num processo de idealização.

Em paralelo, no entanto, observa-se igualmente o despertar para uma nova vida que, pouco a pouco, vai moldando um outro modus vivendi, adaptado às circunstâncias que se apresentam sempre associadas à fartura que faltava na origem. O contato com o outro também vai se estabelecendo, obrigando ambas as partes a alargarem os horizontes de saber, enriquecendo-os. Este contato, por exemplo, é tema da narrativa Andere Länder, andere Sitten (Outras terras, outros usos) de Luis Kuchenbecker. O conflito é ilustrado pela oposição de interpretações de um mesmo procedimento. A diferença entre os costumes regionais mineiros e prussianos está representada no entre-choque de reações das personagens perante uma mesma e determinada situação: o prussiano recolhe o gado estranho que invadira a fazenda sob sua responsabilidade. Para o imigrante esta é uma atitude de boa vizinhança. Para o dono do gado, este comportamento equivale a um roubo, a uma agressão. Ao final, a narrativa aponta para o reconhecimento e para a convivência pacífica com as diferenças culturais, muitas das quais se mantêm até hoje.

As nações modernas são todas, como se sabe, híbridos culturais. Que diferenças haverá nos processos de caldeamento cultural do passado e nos hodiernos?

Será que o exame adequado da produção literário-ficcional dos imigrantes de língua alemã no Brasil não poderá ajudar a compreender melhor o atual temor ante a "homogeneização cultural" na esteira da chamada "globalização", e mostrar que, na verdade, o que ocorre é uma "glocalização", isto é, o “local” accessível a todos?

 

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Notas:

[i]  „Deutscher! Warum arbeitest du noch als Knecht für fremde Herren? Warum hungerst du noch auf einer ungenügenden Landfläche? Mache dich auf  nach Brasilien. Das reichste Land der Welt mit seinen unermesslichen Urwäldern wartet auf dich. Da kannst du auch Herr werden auf eigenem Grund und Boden. Das allerbeste Land Brasiliens wird gerade jetzt aufgeteilt und ausverkauft. Der Platz ist schon abgesteckt, wo die modernste Stadt gebaut werden soll mit Kirchen, Schulen, Krankenhäusern, Banken und Geschäften. Der Plan ist schon ganz fertig. Erstklassige, breite Verkehrsstraßen werden demnächst gebaut, und auch mit dem Bau der Eisenbahn ist bald zu rechnen. Fast auf jeder Kolonie steht soviel Nutzholz, daß allein damit der Kaufpreis bald gedeckt werden kann. Arbeiter! Kleinbauer! Eilt! Sichert euch und euren Kindern die Zukunft! Sichert euch den besten Boden Brasiliens!“  GRELLERT, Otto - Jedem sein Paradies. In: Serra-Post Kalender. Ijuí, 1954, p. 173.

[ii] „Michaels Rechnung hatte genau gestimmt, denn Goldenberg gab zu wissen, daß das Geld für ihr Häuschen gerade für die Überfahrt bis Santos gereicht habe [...] Da lag er nun tatsächlich vor ihnen ausgebreitet, unendlich weit, der urwaldbewachsene Grund und Boden, viel weiter noch, als sie es sich vorzustellen wagten. [...]Die Anzahlung, die müßten sie sich doch erst einmal verdienen. Dazu fänden sie auch im Walde gute Gelegenheit. Sie könnten zum Beispiel gleich bei der Straßenarbeit anfangen, oder auch in den Wald gehen.[...] So standen sie nun, der erträumte 'Herr vom eigenen Grund und Boden', bei aller Hitze an der Picarette, ohne ein Häuschen mit Gartenland sein Eigen zu nennen. [...] Wo liegt denn hier die modernste Stadt mit den Schulen und wer weiß nicht was? Wo sind die erstklassigen Straßen und wo die Eisenbahn? Bluff ist das alles! [...] 'Ich habe mir das alles aber ganz anders vorgestellt', kam es unbedacht von Michels Lippen'. [...] vergoß manchen Liter Schweiß und seine Cathrein manchen Liter voll Tränen."  GRELLERT, Otto - Jedem sein Paradies. In: Serra-Post Kalender. Ijuí,  p. 176-178.

[iii] "'Bruder", sagte er, 'wir wandern aus, meine Frau, mein Sohn und ich. Ich bin es überdrüssig immer auf gepachtetem Land zu arbeiten, ich will ein freier Bauer werden auf eigener Scholle'". SIRI, Hilda - Dia alte Truhe. In: Serra-Post Kalender. Ijuí, 1954, p.82.