RELLIBRA

LIBEA - Literatura Brasileira de Expressão Alemã
PROJETO DE PESQUISA COLETIVA (USP/Instituto Martius-Staden)
Grupo de pesquisa RELLIBRA – Relações linguísticas e literárias Brasil-Países de língua alemã
Coordenação geral: Celeste Ribeiro-de-Sousa
Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Alemã - USP

 

JOSÉ ANTONIO BENTON (1894-1986): VIDA E OBRA

Autoria: Patrícia da Silva Santos, 2015.
Direitos autorais: Apesar dos esforços, não se sabe quem são os depositários dos direitos autorais deste escritor. Quem puder ajudar, entre em contato com Patrícia da Silva Santos. (Die Rechteinhaber dieses Schriftstellers konnten trotz aller Bemühungen nicht ausfindig gemacht werden. Die betroffenen Personen mögen sich bitte an die Mitarbeiterin des Projektes Patrícia da Silva Santos wenden.
Como citar: Santos, Patrícia da Silva. José Antonio Benton (1894-1986): vida e obra. São Paulo: Instituto Martius-Staden, 2015.

Dados biobibliográficos

José Antonio Benton, pseudônimo de Hans Gustav Elsas, nasceu em 1° de março de 1894 em Stuttgart. Formou-se em direito em Tübingen, mas estudou também Romanística em Munique, tendo escrito para vários jornais, incluindo o Frankfurter Zeitung. Na Alemanha, escreveu peças de teatro, novelas. A tragédia Das Klagelied foi levada ao palco do Teatro Estadual de Württemberg (Württembergisches Landestheater) em 1927. Publicou, com o pseudônimo de Helmut Gaupp-Turgis, o romance satírico Der Biedermann (O homem de bem) em data controversa: nas informações oferecidas pela internet, consta que o ano foi 1934; no currículo que Benton escreveu, porém, o ano é 1935; na edição do romance de 1961, há referência à primeira publicação como tendo sido em 1933.

Em 1936, acossado pela perseguição nazista aos judeus, exilou-se com a esposa (Karola Maria Theresia Elsas) e três filhos no Brasil. Aqui chegando, trabalhou inicialmente como professor de línguas estrangeiras em São Paulo (conforme foi possível constatar, lecionava, ao menos, francês, alemão, latim e grego). Em 1949, ajudou a fundar a Goethe Gesellschaft e a Goethe Akademie, que promoviam as relações literárias e científicas teuto-brasileiras. Das atividades promovidas por essas instituições resultou ao menos um registro material: “Goethe: conferências comemorativas do bicentenário” (São Paulo: Arquivo Municipal, 1949). Além disso, as instituições foram responsáveis pela vinda de intelectuais alemães para o Brasil com o intuito de realizações de palestras. Não foram encontrados dados relativos à data do fim de suas atividades.[1] Benton seguiu publicando na Alemanha sob o pseudônimo brasileiro, inclusive ainda na vigência do nazismo. Em 1938, por exemplo, apareceu seu livro Tarpan. Mythe vom letzten Mongolenzug (Tarpan. Mito da última migração mongol). Ao menos nos círculos sociais públicos, o autor assumiu plenamente esse seu pseudônimo: as cartas datadas posteriormente à Segunda Grande Guerra seguem assinadas com José Antonio Benton. A atividade como professor também foi exercida sob esse pseudônimo.

O autor pesquisou temas da literatura brasileira e da literatura colonial portuguesa dos séculos XVI, XVII e XVIII, sobretudo os missionários jesuítas. No início da década de 1950, foi convidado pela Universidade de Hamburgo para lecionar um semestre sobre o tema.

Em 1953, tornou-se professor de língua e literatura grega na à época chamada Universidade de Assis, (atualmente um campus da UNESP), onde lecionou até 1963.

Paralelamente às atividades como professor, Benton dedicou-se com grande interesse à literatura popular brasileira, tendo investigado os mitos e lendas indígenas, bem como as tradições literário-musicais sertanejas. Alguns de seus artigos chegaram a ser publicados em revistas alemãs. Também dois de seus livros Die Söhne Tamangos (Os filhos de Tamango) e Calangro. Oder das Friedensfest der Tiere (Calangro. Ou a festa pacífica dos animais), foram publicados na Alemanha e devem muito do seu conteúdo ao contato com a literatura oral e/ou popular do Brasil.

Depois de afastar-se da Universidade de Assis, Benton mudou-se para Niterói, onde permaneceu até sua morte, em 1986.

É provável que muitos dos seus manuscritos tenham se perdido e muitos outros continuem na posse da família. Há, todavia, um acervo com textos seus no Arquivo da cidade de Stuttgart (Stadtarchiv Stuttgart). Por conta de problemas relativos aos direitos autorais, ele não foi disponibilizado ao público, nem ordenado. Por esse motivo, o escritor permanece muito pouco estudado e discutido. É ainda possível encontrar referências a seus escritos em outros acervos: Deutsches Literaturarchiv – Marbach; Exil-Bibliothek – Universität Hamburg; Württembergische Landesbibliothek - Stuttgart, Instituto Martius-Staden – São Paulo.

De sua obra, destacamos:

 

[1] Em 2009, foi fundada a “Associação Goethe do Brasil” (uma nova Goethe Gesellschaft, por assim dizer). O programa de seu 1º Congresso encontra-se disponível em: http://dtllc.fflch.usp.br/node/203.

 

Narrativas:

Der Biedermann (O homem de bem). Stuttgart, Schuler Verlagsgesellschaft, 1961. (A primeira edição foi publicada em 1935, mas foi proibida pela “Reichsschrifttumskammer” três semanas depois do lançamento).

Calangro. Oder das Friedensfest der Tiere (Calangro. Ou a festa pacífica dos animais). Hamburg, Claassen, 1954.

Tarpan. Mythe vom letzten Mongolenzug (Tarpan. Mito da última migração mongol). Hamburg, Goverts, 1938.

Brasilische Legenden (Legendas brasileiras). In: Deutsche Blätter. Santiago de Chile, vol. 33, 1946, p. 43-46.

Die Onça (A onça). In: Deutsche Blätter. Santiago de Chile, vol. 29, 1946, p. 39-50.

Die cambresische Hochzeit (O casamento cambresiano). Hamburg, Classen & Goverts, 1947.

Die Söhne Tamangos (Os filhos de Tamango). Hamburg, Claassen & Goverts, 1947.  (Este foi o único dos livros de Benton traduzido para o português com o título Os filhos de Tamango. Tradução: Catharina Baratz Cannabrava. Rio de Janeiro: Rio editora, 1944. De acordo com nota no livro, o original em alemão teria sido inicialmente publicado na Suíça, pela jornal Der Bund).

Die Hinrichtung der Diebin (A execução da ladra). In: Die Wandlung: Eine Monatsschrift. Heidelberg, vol. 3, 1948, p. 226-227. (Tradução do original oral indígena).

Der Tod der Mutter (A morte da mãe). In: Die Wandlung: Eine Monatsschrift. Heidelberg, vol. 3, 1948, p. 227. (Tradução do original oral indígena).

Brasilianische Tierfabeln: Übertragung und Erläuterung (Fábulas brasileiras de animais: tradução e interpretacão). in Merkur: Deutsche Zeitschrift für europäisches Denken. Stuttgart, ano 9, caderno 5, 1953, p. 463-471.

Salz (Sal), in Frankfurter Zeitung, 1934. (Manuscrito consultado na Württembergische Landesbibliothek, sem a data exata da publicação).

 

Peça de teatro:

Das Klagelied: Tragödie (O canto fúnebre: tragédia). Berlin: S. Fischer, 1927.

 

Poemas:

Brasilianische Lieder: Nachdichtungen von José Antonio Benton (Canções brasileiras: adaptações de José Antonio Benton). In Merkur: Deutsche Zeitschrift für europäisches Denken. Stuttgart, ano 7, caderno 5, 1953, p. 438-445.

 

Ensaios:

 

Erzählungen des Tux-i-ni: Notiz über das Werk des indianischen Dichters (Narrativas de Tux-i-ni: notícia sobre a obra do poeta índio). In Die Wandlung: Eine Monatsschrift. Heidelberg, vol. 3, 1948, p. 225-226.

Anmerkungen zur Geschichte der Worte Colere und Cultura (Anotações sobre a história das palavras colere e cultura). In: Anais do Primeiro Congresso Brasileiro de Filosofia. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1950, p. 521-540.

Brasilische Volksdichtung: Anmerkungen zu den Liedern und Erzählungen der Sertanejos (Literatura popular brasileira: anotações sobre as canções e narrativas dos sertanejos). In Merkur: Deutsche Zeitschrift für europäisches Denken. Stuttgart, ano 6, caderno 7, 1952, p. 667-682.

O ensino de letras clássicas. Trad. Roberto Schwarz. In: Revista de Letras. Assis, vol. 2, 1961, p. 92-108.

Anmerkungen zur Interpretation der pindarischen Chorlieder: Pythia IX und IV (Anotações sobre a interpretação das Odes de Píndaro: Pítia IX e IV). In: Revista de Letras. Assis, vol. 4, 1963, p. 49-79.

 

Inéditos:

Die Heimkehr ins Vaterland. Interpretation der Verse 352-355 der hom’schen Odyssee (O regresso à terra natal. Interpretação dos versos 352-355 da Odisseia de Homero). Manuscrito inédito consultado na Württembergische Landesbibliothek.

Dritte Vorlesung zur Interpretation der kyrenaiischen Chor-lieder des Pindar (Terceira aula sobre a interpretação das Odes de Cineraica de Pindar). (Manuscrito inédito consultado na Württembergische Landesbibliothek)

 

Resumos comentados

Clique aqui

 

Bibliografia crítica

Clique aqui